segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MASSACRES NO RIO GRANDE DO NORTE – JÁ VIMOS ESSE TIPO DE DESGRAÇA



Autor – Rostand Medeiros
Diante da terrível tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na manhã desta última quinta-feira, quando aquele ex-aluno invadiu o prédio e matou 11 jovens, passei a me questionar, como milhões de brasileiros, a razão deste massacre.

Massacre do Realengo
O negócio foi tão sério, que até nossa forte presidenta extravasou sua emoção e chorou em público. Como pai, senti um forte aperto no coração pelos pais das vítimas do massacre do Rio.

Dilma chora pelos jovens mortos no Rio
Em meio a estes pensamentos, me lembrei de que o Rio Grande do Norte deve ser o único estado brasileiro que possui um feriado (comemorado em 3 de outubro), onde se relembra as vítimas de dois massacres ocorridos durante a ocupação holandesa desta parte do país.
Mas outros fatos tenebrosos ocorreram na terra potiguar e não faz muito tempo.
O Terror em uma Fazenda de Cruzeta
Amigos e amigas, eu confesso que pelejei, pelejei, mas não consegui chegar a saber o ano que aconteceu o fato que vou narrar. Mas acredito que este triste episódio se desenrolou entre o final da década de 1960 e o início da década seguinte.
No Sítio Margarida, localizado a poucos quilômetros da cidade potiguar de Cruzeta (220 km de Natal), por volta das três da manhã, o agricultor José Emídio se levantou para ordenhar algumas vacas.
Enquanto isso na sua casa um dos seus cinco filhos, que acredito ter sido o mais novo, chorava pedindo para mamar.
Emídio teria dito a sua mulher que realizasse o desejo da criancinha. Mas Severina Maria da Conceição, provavelmente impaciente, respondeu imprudentemente que “-Deixasse chorar, pois o filho não é seu”.

Os mortos e o assassino de Cruzeta
Aparentemente calado como estava, calado Emídio ficou. Remoeu o ódio da traição dentro do peito e tomou uma decisão fatídica.
Foi à cozinha, pegou um facão amolado e, sem maiores considerações, gritarias, ou choradeiras típicas de quem é traído, matou todo mundo que estava dentro da simples vivenda.
Consta que José Emídio desconfiava que fosse traído pela esposa. Na sua concepção de homem “macho”, a afirmativa de Severina selou sua vida e de seus filhos.
Além de Severina, a crueldade de José Emídio deixou sem vida Manoel, Josenir, Francisco, Josileide e Josemar. Este último era o mais velho, tinha oito anos e ainda foi socorrido com vida para o hospital da cidade de Currais Novos, aonde veio a falecer. No total foram seis pessoas eliminadas.

O cordel sobre o caso
Segundo o cantador “Craúna do Norte”, autor do cordel “O Bárbaro Acontecimento das Mortes em Cruzeta”, assim ocorreu o enterro;
Oh que cena comovente
Em lembrar os funerais
Um caixão grande na frente
E cinco pequenos atrás
Reinava um certo mistério
Em rumo ao cemitério
Morada do desengano
E a multidão que seguia
Quem visse não choraria
Só se fosse desumano
A princípio José Emídio quis negar a polícia, mas depois confessou tudo.
Não tenho maiores informações sobre este caso.
O Monstro de Capim Macio
Corria o ano de 1975. Eu não tinha nem dez anos de idade e até mesmo pelo meu então curto tempo de vida, eu não poderia saber maiores detalhes.
Mas me lembro do clima de medo e de surpresa que se instalou entre meus familiares e de como eu ia dormir assustado com as histórias do “Monstro de Capim Macio”. Esta figura era, no meu pensamento de criança, um ser enorme, demoníaco, que poderia chegar a qualquer momento e me levar da casa dos meus pais.

Área de Ponta Negra, década de 1970, próximo a Capim Macio
No dia 8 de agosto, na área de Capim Macio, então um lugar onde ainda se encontravam granjas, havia uma propriedade que pertencia a uma professora alemã chamada Ruth Carolina Marta Loomam. Ela morava com sua mãe Alexe Flena Maria Reymann, de 60 anos, com suas duas filhas, Carla, de 13 anos e Anthonieta, de 11 anos e ainda a empregada doméstica de nome Ana Lídia, então com 14 anos, e que estava grávida.
E havia o caseiro. Ele se chamava José Vilarim Neto, com 25 anos, sendo descrito como um homem baixo, moreno, taciturno, mas prestativo e considerado um bom ajudante de serviços pesados.
Nesta noite, por motivos até hoje desconhecidos, Vilarin adentrou a casa e começou uma orgia de sangue. Matou as pequenas Carla e Anthonieta, a avó e a empregada Ana Lídia. Para realizar sua crueldade, ele utilizou um rifle calibre 22. Consta que teria praticado necrofilia com uma das meninas.
Segundo a reportagem do jornal Diário de Pernambuco, de 8 de maio de 1980, feito isso Vilarin foi ao quintal da casa e cavou um grande buraco, onde pretendia colocar os corpos. Mas a professora chegou com sua filha mais nova, Astrid. Vilarin tentou matar a dona da granja, desferindo dois disparos que lhe atingiram o maxilar e o ombro.
Mesmo ferida, a professora Ruth partiu para cima de Vilarim e, com mais força física, conseguiu desarmar o assassino, entrou na casa, se trancou e ele fugiu.
Ruth e Astrid buscaram ajuda e foram encaminhadas para o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.
Vilarim passou a ser caçado. A capital potiguar estava estupefata com a crueldade do evento e ele passou a ser denominado como “O Monstro de Capim Macio”.
Dias depois Vilarim foi capturado em uma granja próximo a Macaíba. Depois de algemado não explicou o motivo para a matança, não falava coisa com coisa e parecia desnorteado. Os jornais deram muitas páginas para este assunto e Natal ficou aliviada com a captura da “fera”.
Foi uma chacina sem precedentes na história policial da capital potiguar. Segundo o jornal Diário de Natal, na edição de domingo, 10 de agosto de 1975, Vilarim não era mais o caseiro de Ruth. Mas o jornal não aponta se o fato de Vilarin não ser mais funcionário da professora seria uma possível razão para ele ter cometido os nefastos crimes.
Quase cinco anos depois Vilarin sentou no banco dos réus, sendo acusado da prática de quatro homicídios, necrofilia e lesão corporal.

Capim Macio na atualidade
Depois de 12 horas no plenário do júri, “O Monstro de Capim Macio”, então com 29 anos de idade, foi condenado a 132 anos de prisão e mais 2 anos de medida de segurança. Consta que esta foi a maior sentença já aplicada na história da justiça criminal do Rio Grande do Norte.
O jornal pernambucano anteriormente citado informa que Vilarim ouviu sua sentença na maior indiferença e não comentou nada com os jornalistas.
Vilarin e Capim Macio (atualmente uma área superpovoada), foram durante muito tempo nomes que evocavam terror e medo.
Não tenho ideia do que ocorreu com as sobreviventes deste trágico episódio e nem com o “Monstro”.
Noite de Terror na Periferia de Natal
Da mesma forma como ocorreu em Cruzeta, seria uma boataria que ascenderia o estopim de uma noite de sangue em 1997.
Ele era um rapaz de baixa estatura, de complexão forte, que vivia em Santo Antônio dos Barreiros (hoje conhecida como Santo Antônio do Potengi). Um tranquilo distrito da cidade de São Gonçalo do Amarante, a 11 quilômetros de Natal.

“Neguinho de Zé Ferreira”
Seu nome era Genildo Ferreira de França, mais conhecido como “Neguinho de Zé Ferreira”. Consta que em 1990 Genildo serviu o Exército, salvo engano no Batalhão de Engenharia de Natal, onde se destacou e recebeu prêmios pela sua perícia como atirador. Afirma-se que devido a este período passado no meio militar, Genildo tinha uma grande idolatria por armas de fogo e militaria.
Considerado um bom rapaz, era casado e tido como um exemplar pai de família. Após sair do Exército montou um barzinho utilizando um dos cômodos de sua casa.
Neste meio tempo sofreu uma grande decepção, quando seu primeiro filho morreu atropelado.
Não sei se foi devido a este fato, mas logo ele se separou da primeira mulher. Contudo existe uma certeza por parte daqueles que o conheceram que, após estes acontecimentos negativos, Genildo passou a apresentar sutis sinais de perturbação. Entre estes, comentava que um dia iria se vingar do motorista atropelador.

O templo católico do lugar
Para muitos ele ainda tentou dar um rumo na sua vida. Casou pela segunda vez com Mônica Carlos de França.
Mas o casamento não deu certo. Havia muita briga e ele agredia a nova mulher constantemente. Em certo momento Genildo afirmou que Mônica, para tentar forçar uma separação, dizia a amigos que teria flagrado o marido na cama com um homem. Ele culpava os parentes de sua mulher, que estariam espalhando a acusação que ele era homossexual e assim apressar a separação do casal. Logo a boataria correu solta na pequena comunidade de 5.000 habitantes e Genildo era apontado na rua.
Estava montado o palco da desgraça.
Genildo começa a planejar tudo em detalhes, onde desejava exterminar pelo menos 20 pessoas.
Existe uma versão onde se diz que muito do que ele ganhava em seu comércio servia para comprar armas e munições. Logo era dono de um revólver da marca Rossi, calibre 38, niquelado e equipado com um potente silenciador. Além desta arma, ele tinha uma pistola da marca Taurus, no calibre 7,65 m.m. e muita munição.

Revólver 38 e silenciador
Na noite de 21 para o dia 22 de maio de 1997, Genildo começou a sua vingança.
Antes de começar a matança encontrou Francisco de Assis Ramos dos Santos, e uma adolescente chamada Valdenice e os obrigou a acompanhá-lo em vários crimes.
A primeira vítima foi a esposa Mônica, que levou três balaços. Por causa do silenciador instalado no cano do revólver, ninguém na comunidade ouviu nada e a matança continuou.
Chamou o taxista Francisco Marques Carneiro, com a desculpa de realizar um trajeto até Natal. Em um local afastado matou o motorista e passou a utilizar o veículo para praticar várias mortes. Segundo Valdenice houve farto consumo de maconha durante os assassinatos.
Maquiavélico, Genildo utilizou de vários artifícios para atrair suas vítimas. Em um disse que era para realizar algum serviço. Em outro foi um convite para beber. Teve ainda o chamado para uma farra em um cabaré. Consta que perto de amanhecer o dia ele dispensou os pretextos e entrava nas casas atirando sem piedade. Ao matar o trabalhador rural Edilson Nascimento, disse aos gritos que o fazia para mostrar que não era homossexual.
Existe uma versão que durante a noite ele parou certo cidadão e colocou a arma na sua cabeça, mas ao reconhecê-lo o dispensou. Afirmou que não lhe matava “- Pois ele não lhe havia caluniado”.
Em meio a selvagem matança, uma guarnição da Polícia Militar foi chamada para prestar socorro a uma das vítimas.
Logo houve o encontro dos policiais com Genildo e este não titubeou. Matou o sargento comandante da viatura, feriu um dos policiais e se apossou de uma submetralhadora modelo PM-12.
Com a morte do sargento, a notícia chegou a capital e outros policiais foram deslocados para a região.
Conforme o dia amanhecia, a polícia ia tomando conhecimento da dimensão da tragédia que se desenrolava, na medida que encontrava mais corpos. Logo a imprensa acordava Natal com a tragédia.
Recordo-me perfeitamente de estar naquela manhã no bairro da Ribeira, em Natal, resolvendo alguma coisa. Dentro do meu carro escutava tranquilamente alguma rádio FM. Quando estava parado em um semáforo, percebi que o motorista do lado estava visivelmente impressionado com algo que estava sendo transmitido no seu rádio. Ele percebeu que eu lhe observava e me perguntou se eu estava ouvindo “-O que acontecia em São Gonçalo?”. Eu disse que não e ele me falou para sintonizar na faixa AM.
Quase não pude acreditar o que era transmitido pelo meu surrado “Roadstar Cara Preta”, através do plantão policial da extinta Rádio Cabugi.
Na área do massacre, em certo momento Genildo passou a levar como refém a sua própria filha, Gislaine, de apenas cinco anos.
Creio que por volta das nove da manhã, depois de 12 horas de mortandades, o cerco apertou e os policiais encurralaram Genildo na empresa Cerâmica Potengi. Sem saída ele mandou que Valdenice fugisse com sua filha. Depois teria dado um tiro no próprio peito. Para as autoridades ele foi morto pela ação policial.
Assim terminou um dia de fúria, com um total de 15 mortos.

Velório de duas das vítimas de Genildo
A tragédia se transformou em um grande espetáculo da mídia e diferentes razões para a ação de Genildo foram levantadas pelos jornalistas e especialistas. Igual como ocorre atualmente no caso da escola do Rio.
Até mesmo um documentário sobre o massacre em Santo Antônio do Potengi foi criado. Dirigido pelos potiguares Mary Land Brito e Fábio DeSilva, “Sangue do Barro” fez parte da consagrada série Doc Tv.
Os que conhecem a mente humana afirmam que nunca se sabe onde outro psicopata pode aparecer e realizar suas ações maléficas.
Esperemos que daqui prá frente isso seja coisa do passado.

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